quinta-feira, 31 de julho de 2014

Mercadinho biológico do Funchal


Já todos sabem como gosto de mercados, já todos sabem como gosto ainda mais de mercados biológicos. Desta vez venho falar-vos de um mercado biológico que conheci recentemente e que decorre todas as quartas-feiras na cidade do Funchal, no Largo da Restauração.
Devo confessar que ao chegar fiquei surpreendida com a oferta e variedade de produtos. Cores, formas, texturas e aromas saltam das bancas que desfilam no espaço. Hortaliças, ervas aromáticas, pão e frutas, muitas frutas, nomeadamente tropicais, típicas desta região: mangos (mais pequenas que as conhecidas mangas, mas não menos doces), bananas, physalis, filodendro e muitas mais. Também fiquei impressionada com a afluência de pessoas, mostrando que na região a produção biológica já é muito valorizada. Sendo madeirense não posso deixar de ficar orgulhosa com a forma como a produção biológica tem ganho cada vez mais destaque e adeptos na região. Nestas últimas férias não tive qualquer dificuldade em manter os meus hábitos alimentares: a minha mãe e irmã são clientes assíduas deste mercado e de outros pontos de venda de produtos biológicos ou ecológicos e inclusivamente tivemos a oportunidade de visitar a Quinta do Pomar, mas isso dará um outro post. Até em restaurantes encontrei por diversas vezes oferta de refeições confecionadas com produtos biológicos. Não é por acaso que a ilha da Madeira foi uma das primeiras regiões, a nível mundial, a proibir a produção de alimentos geneticamente modificados.

Como já é habitual na produção biológica os produtos falam por si e pouco há a dizer que supere o aspeto e a vontade de os colocar no cesto das compras, por isso deixo-vos com algumas imagens da minha visita a este mercado que conta  com 10 anos de existência:





É bem visível nos produtores o orgulho que têm no seu trabalho, nos seus produtos e na região que com o seu microclima permite uma boa oferta todo o ano. Também aqui se ouvem os produtores a partilharem os seus conhecimentos e técnicas com os clientes: "Vou ensinar-lhe a semear batatas sem precisar de cavar..." dizia um. Também aqui os vendedores passam a conhecer os seus clientes e vice-versa, convidam-nos, com orgulho, a conhecerem as suas explorações e despedem-se com um sorriso nos lábios dizendo: "Então até para a semana!"







quarta-feira, 16 de julho de 2014

O veneno está na mesa



O filme é grande: se não tiverem paciência para o verem na totalidade pelo menos vejam os primeiros minutos em que o sociólogo Boaventura Sousa Santos, de forma sumária, explica muito bem como a indústria agroalimentar sufoca os pequenos produtores e faz-nos pensar que os seus conhecimentos e saberes são inúteis e desatualizados, tudo em prol dos grandes interesses financeiros. Nas suas próprias palavras "Não há apenas uma forma de conhecimento válido nas sociedades."; de resto, o filme fala sobre o impacto catastrófico desta indústria no meio ambiente e na nossa saúde (nomeadamente no que diz respeito à incidência do cancro). É mesmo importante ver: 

   



domingo, 13 de julho de 2014

A escolha do peixe na nossa alimentação


Como já referi anteriormente cá em casa algumas das nossas refeições continuam a ser de carne e peixe. Apesar de acreditar profundamente que o consumo de proteína animal deva ser reduzido (atendendo aos padrões atuais de consumo) e substituído por alternativas vegetarianas (e não obrigatoriamente por soja), ainda não encontrei uma evidência de que posso, em segurança, eliminar de vez a proteína animal da nossa alimentação, sem comprometer alguns aspetos da saúde, nomeadamente no que diz respeito às crianças. Neste sentido, procuro fazer uma a duas refeições por semana de peixe. Devo, no entanto, confessar que não é o tipo de prato que mais me dê prazer em confecionar: normalmente, por supostamente ser mais prático, peço na peixaria (do mercado, claro) para o limpar, no entanto, é rara a vez que o peixe seja realmente bem limpo e sou obrigada a acabar de o limpar entre resmungos e críticas dirigidas a quem me entregou o peixe naquele estado...
Por outro lado a escolha do peixe é sempre uma preocupação: a poluição dos mares é algo sempre presente na minha escolha quando vou às compras e cada vez mais procuro fazer escolhas responsáveis tanto a nível de saúde como a nível ambiental.  São inegáveis os benefícios do peixe para a nossa saúde (uma boa fonte de proteína e de gorduras insaturadas, por exemplo), no entanto não podemos ignorar que a escolha do peixe isento de poluição é bem mais difícil (se não impossível) do que comparado com a escolha da carne. No entanto tenho alguns cuidados que tento seguir quando vou comprar peixe:


                        in:  http://oceana.org/en/our-work/stop-ocean-pollution/mercury/overview

Não compro peixe de aquacultura a não ser proveniente de práticas de aquaculturas responsáveis (devidamente certificadas e assinaladas com o símbolo de agricultura biológica): as explorações de aquaculturas podem ser fontes de poluição, nomeadamente no que diz respeito ao excesso de alimentação, resíduos de peixe e peixes mortos. Este resíduo pode estimular o crescimento exacerbado de algas, escurecendo as águas costeiras e provocando a alteração dos ecossistemas existentes no fundo do mar. As altas densidades de peixes em tanques-rede utilizados pelas instalações de aquacultura levam a surtos de doenças e os peixes em cativeiro escapam muitas vezes para o meio ambiente, onde podem espalhar essas mesmas doenças à população de peixes selvagens. Os peixes de viveiros são tratados com antibióticos para resolver esses mesmos surtos, com todas as implicações que já conhecemos para a saúde humana. Por outro lado e ironicamente, a aquacultura é cada vez mais a causa da pesca excessiva das "espécies presas". Espécies como o salmão (que praticamente já não se encontra sem ser oriundo segundo este modo de produção) e o atum, são predadores de outras espécies e exigem grandes quantidades de óleo e farinha de peixe na sua alimentação, tornando-os altamente dependentes da pesca selvagens. 

Outra preocupação é a contaminação das águas do oceano com mercúrio: esta questão já não é nova e lembro-me de em criança ouvir as preocupações da minha mãe a este respeito na escolha e compra do peixe. O mercúrio é libertado para o meio ambiente a partir de fontes industriais e através de um processo chamado bioacumulação os animais posicionados no topo da cadeia alimentar, ou seja, predadores de outras espécies, possuem níveis mais elevados de mercúrio. Muitos dos peixes que nós comemos, como o atum, a pescada e o peixe-espada poderão estar contaminados com mercúrio tendo consequências nefastas para a saúde humana, como o atraso do desenvolvimento neurológico em crianças. Neste sentido, a Food and Drug Administration e a Agência de Proteção Ambiental têm aconselhado as mulheres em idade fértil e crianças a não comerem certos tipos de peixes, devido aos elevados níveis de mercúrio. 

 Sobre este assunto tão atual e preocupante aconselho vivamente a consulta do site da Oceana, a maior organização internacional que se dedica à conservação dos oceanos e proteção dos ecossistemas marinhos: http://oceana.org/en/eu/home, ou ainda a lista vermelha da Greenpeace em http://www.greenpeace.org/portugal/Global/portugal/report/2008/6/lista-vermelha-peixes.pdf. 
Sobre a escolha das espécies de peixe a comprar as minhas recomendações são: antes de mais, tal como no consumo de carne, alternar as nossas refeições de carne e peixe com refeições vegetarianas, reduzindo desta forma a necessidade do seu consumo. Em segundo lugar tentar escolher espécies não predadoras e que têm um ciclo de vida mais curto (como a sardinha ou o carapau). Sim, eu sei, não é fácil. Temos a sensação que seja qual for a nossa escolha não conseguimos escapar a aspetos nocivos à saúde e ao ambiente. No entanto é esta realidade em que vivemos e não podemos continuar a enganarmo-nos dizendo repetidamente: “se formos a pensar nisso, não comemos nada…”. Pelo contrário: é urgente pensar e com o tempo estas práticas passam a fazer parte do nosso dia-a-dia e tudo fica bem mais fácil.