sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Agricultura biológica: implicações sociais


Se num primeiro contacto ou conversa sobre o assunto as pessoas acham interessante e engraçado, ou melhor, giro, quando lhes falo dos meus hábitos alimentares e da opção de frequentar locais que vendem produtos de agricultura biológica, com o tempo noto inevitavelmente (salvo algumas exceções) algum enfado quando em conversas de partilha dos hábitos quotidianos eu saio da área de conforto da maioria das pessoas e falo das outras opções. De facto, essas conversas tornam-se algo embaraçosas porque  existe sempre uma expectativa que no campo alimentar as pessoas façam, mais coisa menos coisa, o mesmo: as mesmas compras, nos mesmos locais, os mesmos hábitos culinários e até os mesmos "pequenos" pecados que todos deveriam, supostamente, cometer. Não é fácil, portanto, no plano alimentar assumirmos hábitos diferentes, não deveria ser assim, mas o que é certo é que se trata de um assunto muito delicado.
É importante, talvez, referir que nunca recuso (por este motivo) um convite para comer em casa de outras pessoas que não partilhem os mesmos hábitos que eu, acredito que comer também é um ato social importante e por isso não devo tornar-me criteriosa quando sou convidada na casa dos outros ou exigir que façam como eu.
Outras implicações diz respeito às escolas: de facto, não são exemplo para ninguém e se estamos à espera que sejam um veículo de educação alimentar podemos bem esperar sentados. A começar pela qualidade dos produtos que adquirem (que raramente passa por produtos de agricultura biológica), as escolas tendem a violar aqueles princípios mais básicos como: excesso de carne em detrimento do peixe, raramente servem legumes cozidos (apenas saladas frias, porque é mais prático), os cereais não são integrais e isentos de açúcar e sim de pacote das marcas mais conhecidas que sabemos que estão cheias de açúcar refinado e ainda os iogurtes que para além de não serem biológicos são muitas vezes de aromas de fruta (e que de fruta não têm nada). Isto para não falar que todo e qualquer acontecimento é pretexto para dar açúcar às crianças: são os aniversários, é o natal, é o carnaval, é o dia da criança, é o dia da árvore, é o dia de S. Martinho  é o dia do mês em que assistem um filme e comem pipocas e poderia continuar com a minha lista de acontecimentos importantes que justificam dar açúcar às crianças. Por tudo isto e muito mais, que não posso mencionar aqui porque senão não me calava, encontro aqui um sério problema: se por um lado não quero que as minhas filhas se tornem aves raras e que se sintam diferentes dos outros, por outro lado existem situações em que não consigo aceitar por acreditar que comprometo a sua saúde e seria negligente da minha parte fechar os olhos. Neste sentido, opto por enviar de casa e debaixo de olhos inquisidores e perplexos por estar a privar as meninas do convívio normal a que qualquer criança terá direito, alguns alimentos como os iogurtes, cereais e o pão (este com a desculpa de que a mais velha é alergia ao glúten).
O que posso dizer é que para já sinto-me muito bem com as opções que tenho feito nos últimos anos e não tenciono mudar porque as minhas escolhas não se prendem pelo que é mais prático, ou mais fácil, mas sim pelo que, no meu entender, é o melhor para a minha saúde, a saúde da minha família e consequentemente para o meio-ambiente. De resto, é como diz o ditado: "cada um sabe de si e Deus sabe de todos".

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